Estruturas para fronteiras invisíveis, 2015-20 / trabalho comissionado pela 15º Bienal de Istambul. < scroll down for english version >
A série é uma pesquisa em andamento desde 2015, que procura rearticular antigas narrativas sobre os períodos de imigração em São Paulo, a partir de uma desconstrução de narrativas tidas como oficiais, contidas em materiais de ensino público e privado. O livro Retalhos da Velha São Paulo (Geraldo Sesso Junior) é utilizado até hoje como material e fonte de pesquisa para alunos de história em escolas públicas e particulares de São Paulo, mostrando uma visão caricata, positivista e equivocada sobre o advento da imigração nas cidades de São Paulo, apagando fatos importantes ocorridos ali, que mudaram os rumos do desenvolvimento paulista, além de deixar marcas profundas culturais e religiosas. A pesquisa buscou através de alguns “personagens” citados no livro, uma investigação do ponto de vista destes que foram também atores deste processo histórico, fundamental nesta construção. Os trabalhos tem em sua base arquivos orais coletados durante os meses de pesquisa nestes redutos de imigração, aparecem sob a forma de fragmentos perdidos, objetos, documentos, fotos, entre outros, que foram trocados por objetos pessoais do artista, esta ação é simbólica e funciona como um vinculo imediato, que é o motor importante do trabalho ( nota: o que é oferecido, é aceito - Os povos ameríndios de diversas partes do mundo tem neste ato da troca uma significação de contato e relação de confiança) e ampliando as possibilidades de entendimento de uma história apagada por narrativas e discursos estabelecidos pelo poder do Estado( se fazendo valer do ensino) e do processo capitalista. Silêncio nas indústrias Órion S/A, Milicianos no Largo da Concórdia, Cruzeiros e Santas Cruzes, Dito das Graças entre outros, nomeiam algumas obras desta série, que são uma espécie de retrato expandido de cada caso, de cada estória contada e recontada sucessivas vezes. Os trabalhos são pintados com um pigmento branco da linha do horizonte para cima, sugerindo uma espécie de anulação, de apagamento, de embranquecimento onde acima desta linha tudo deixa de existir. ou foi apagado para que se possa agora seguir para o proximo passo, e assim sucessivamente como um cômodo de uma casa ou um recinto comum, que ao operar esta ação abre espaço para o "novo", onde a cor branca simboliza entre muitas coisas, este modelo estético predominantemente ocidental que também higieniza de forma fria e efetiva.
A continuação da serie foi comissionada em parceria com 15º Bienal de Istambul, onde durante quase dois anos, um mapeamento foi feito na cidade de Istambul, revelando novas estratégias de resistência cultural colaborativas que surgiam, reconstruindo por exemplo a formulação da idéia de lar. O espaço multidisciplinar Arthere no lado oriental da cidade e O Pages Café na area de Fener subúrbio da cidade funcionam como centro de profusão de atividades entremeadas pela arte e cultura - ambos possuem um ambiente acolhedor - o primeiro funcionando como um facilitador de cursos e atividades diversas e o segundo como café, biblioteca e livraria em uma casa de madeira de três andares no bairro mais antigo desta cidade, um refúgio literário que surgiu para os jovens árabes exilados – principalmente sírios, mas também iraquianos, líbios e iemenitas. Cada local estimula uma estratégia de fixação cultural própria, que tem crescido e gerado diversas trocas simbólicas, onde o imigrante neste contexto se torna um agente histórico atuante, um exemplo de como sua ação pode ser fundamental, invertendo a lógica de imagem muito veiculada atualmente, que os canais de mídia insistem em reproduzir, enfocando a visão negativa e limitadora a respeito da imagem sobre o imigrante de forma geral. O trabalho continua através da ação colaborativa, na tentativa de produzir um documento semelhante a um passaporte de cor branca, reunindo 10 histórias conectadas a uma série de objetos de 10 colaboradores selecionados por uma chamada pública. Estes objetos foram trocados por outros objetos pessoais levados pelo artista, que posteriormente foram pintados da linha do horizonte para cima com a cor branca, a mesma usada no espaço expositivo.
Estes retratos juntos simbolizam um único "corpo". Este passaporte de cor inexistente, insere de forma oficial um material físico de consulta, contendo uma contra-narrativa quase invisível, que contesta os termos contidos no passaporte tradicional, termos encontrados nos dicionários, e as estórias destes colaboradores, dentro do sistema da própria Bienal - pensando outras possíveis estratégias de resistência que constroem locais simbólicos da cultura interna e externa em qualquer local.
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Structures for invisible borders, 2015-20 / work commissioned by the 15th Istanbul Biennial.
is an ongoing research since 2015, which seeks to reorganize old narratives about initial periods of immigration in São Paulo / Brazil from a deconstruction of narrative taken as contained in official public and private teaching materials - The book Snips of Old São Paulo (Geraldo Sesso Junior) is used today as material and research source for history students in public and private schools in São Paulo, showing a caricature, and positivist quite mistaken view about the advent of immigration in the cities of São Paulo, erasing important facts that occurred there, that changed the course of the São Paulo development in addition to leaving cultural and religious deep marks. The research sought through some "characters" mentioned in the book, an investigation of their real stories that were lost in public archives, local informal and personal files of several families, direct descendants of the characters mentioned in the book of Geraldo Jr. Gesso. In this way the oral files collected during the months of research in these immigration corridors, today preserve lost fragments, in the form of objects, documents, photos, among others and that were exchanged for other personal objects of the artist who carries with him a small museum - this action is symbolic and functions as an immediate link, which is the important motor of the work (note: what is offered, it is accepted - Amerindian people from different parts of the world have in this act of exchange a meaning of contact and trust relation ) And expanding the possibilities of understanding a history erased by narratives and discourses established by the state power. Silence in industries Orion S / A, Militiamen in Largo Concordia, Cruises and Holy Crosses, Dito das Graças, among others, nominate some works from this series, which are a kind of expanded portrait in each case, stories told and retold successive times.The works are painted with a white pigment, in horizon line upwards, suggesting a kind of annulment, of erasure, of whitening where above this line all ceased to exist. or has been deleted, so that it could start "from zero”, as the living room of a house, that when operating this action opens up space for the new, where the white color symbolizes among many things, this predominantly Western aesthetic model which also cleans in a cold and effectively manner.
The continuation of the series was commissioned in partnership with the 15th Istanbul Biennial, where for almost two years, a mapping was done in the city of Istanbul, revealing new collaborative cultural resistance strategies that were emerging, reconstructing, for example, the formulation of the idea of home. The multidisciplinary space Arthere on the eastern side of the city and The Pages Café in the suburb of Fener area of the city, function as a center of profusion of activities interspersed with art and culture - both have a welcoming atmosphere - the first functioning as a facilitator of courses and various activities and the second as a café, library and bookstore in a three-story wooden house in the city's oldest neighborhood, a literary haven that has emerged for young Arab exiles - mainly Syrians, but also Iraqis, Libyans and Yemenis. Each location stimulates its own cultural fixation strategy, which has grown and generated several symbolic exchanges, where the immigrant in this context becomes an active historical agent, an example of how their action can be fundamental, inverting the image logic that is currently being used, that the media channels insist on reproducing, focusing on the negative and limiting view regarding the image about the immigrant in general. The work continues through collaborative action, in an attempt to produce a document similar to a white passport, bringing together 10 stories connected to a series of objects by 10 collaborators selected by a public call. These objects were exchanged for other personal objects taken by the artist, which were later painted from the horizon line upwards with white, the same color used in the exhibition space.
These portraits together symbolize a single "body". This non-existent color passport officially inserts a physical consultation material, containing an almost invisible counter-narrative, which disputes the terms contained in the traditional passport, terms found in dictionaries, and the stories of these collaborators, within the system of the Bienal itself - thinking of other possible resistance strategies that build symbolic locations of internal and external culture in any location.